Olá amigas e amigos,
Bem-vindas e bem-vindos a πολύτροπον (diz-se polítropon) - a minha carta semanal "de muitos caminhos".
Nesta carta veremos “Como a democracia europeia criou os anti-democratas nacionais” e defenderemos que “A boa governação não é um luxo”. Passaremos pela 5 de Outubro, onde lutamos contra o abate dos belos jacarandás, e vamos conhecer a avó Carmo.
Espero que gostem!
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Recordo que πολύτροπον (diz-se polítropon) - "de muitos caminhos" é inteiramente gratuita. — Se quiserem saber mais sobre o nome desta carta, vejam aqui.
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Rui
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A boa governação não é um luxo
A ideia de que a ética e a boa governação sejam um luxo inacessível aos portugueses é uma ideia derrotista. Mas é verdade que se não explicarmos às pessoas como é possível fazer melhor, então talvez elas decidam ficar como estão.
Ora a boa governação em países como a Dinamarca não é uma patente complicada como a fórmula do Ozempic. Trata-se de alguns princípios simples — um PM não pode ter consultoras, cada governo deve ter uma comissão ética independente, os ministros devem ser audicionados pelo parlamento antes de entrar em funções — que se podem importar em três meses. E a boa governação faz um melhor governo da nação — um luxo barato que Portugal já mereceria.
No Expresso desta semana.
Como a democracia europeia criou os anti-democratas nacionais
Aqueles que pregaram punitivismo para os outros querem impunidade para si mesmos.
Marine Le Pen violou a lei conscientemente, desviou mais de quatro milhões de euros durante vários anos, e persistiu depois de avisada. Pelo próprio critério que defendia, que era o de aplicar a inelegibilidade vitalícia, a pena foi até suave.
A questão mais interessante não está, no entanto, aí — mas antes no facto de que é a democracia europeia que tornou possível a carreira destes políticos que a querem destruir.
É sabido que uma das principais críticas que políticos como Le Pen fazem à União Europeia é da sua falta de democracia, em comparação com a democracia nos estados-nação. Mas em França, durante muito tempo, o sistema eleitoral não permitia aos Le Pen chegar ao parlamento francês, como Farage não conseguia chegar ao britânico.
Foi graças ao Parlamento Europeu e ao seu sistema proporcional que eles conseguiram chegar a ser “revolucionários profissionais” a tempo inteiro. Agora é uma lei nacional que interrompe a sua carreira. É uma bela ironia
👉 Na Folha de São Paulo podem ler a crónica completa
De quem são os jacarandás? São nossos!
No Público, com a Patrícia Gonçalves e o Carlos Teixeira, sobre a falta de vontade política para salvar os jacarandás da Av. 5 de Outubro em Lisboa — vamos a tempo de salvar estas árvores centenárias que são parte do património da cidade.
(…) Em 2022, fomos os primeiros a alertar para a necessidade de assegurar a preservação integral do Eixo Classificado dos Jacarandás da Av. 5 de Outubro, no Acordo Endoprocedimental de Entrecampos – o acordo celebrado com o promotor para resolver as questões pendentes do projeto Entrecampos. Com efeito, o acordo referia explicitamente a necessidade de “salvaguardar a manutenção do eixo arbóreo (...) procurando soluções que permitam assegurar esse cumprimento ou, em caso de ser consensual essa impossibilidade, alternativas que garantam a necessária dotação de estacionamento público". Nas reuniões online em que se discutiram os termos do acordo, chegamos até a ligar a câmara do telemóvel sob as copas dos Jacarandás em flor para reforçar como é importante e belo este eixo arbóreo da cidade. Mas nem o Livre foi escutado, nem os termos do acordo foram respeitados. E em 2024, a alteração ao loteamento foi a votos e foi determinada a remoção das 47 árvores, com o voto contra do Livre. Ainda nessa reunião, apresentámos uma proposta de alteração, chumbada pelos Novos Tempos de Carlos Moedas, que visava mitigar o impacto negativo deste megaempreendimento, introduzindo o alargamento do espaço pedonal e de fruição da Avenida, a acalmia do tráfego rodoviário e a plantação de alinhamentos arbóreos adicionais.
No Dia Mundial da Árvore, foi lançada a petição pelo “Não ao abate dos jacarandás da Av. 5 de Outubro”, que conta com mais de 53 mil assinaturas. Um dos promotores, o munícipe Nuno Prates, fora no dia 15 de Março surpreendido por papéis colados nos troncos de mais de 40 jacarandás adultos, a anunciar o seu abate ou transplante “por motivos de urbanização” – um anúncio que choca tanto pela eliminação de árvores adultas e viçosas, como pela época em que surge: em plena nidificação das aves da nossa Lisboa quando as árvores são o habitat para a biodiversidade.
Podem ler aqui o artigo completo.
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Comunicado do LIVRE sobre os jacarandás
O LIVRE regista o anúncio feito hoje pela Câmara Municipal de Lisboa sobre a possibilidade de travar o abate de jacarandás na Av. 5 de Outubro, para a construção de um parque de estacionamento no âmbito da Operação Integrada de Entrecampos, e faz votos para que esta seja uma oportunidade para a revisão deste projeto. Tanto mais que na última semana, a argumentação do Executivo liderado por Carlos Moedas parecia fazer crer que o acordo com a parceira do projeto, a “Fidelidade Property”, era irreversível e nada havia a fazer.
Não obstante, a Vereação do LIVRE na CML vai continuar atenta ao desenvolvimento dos processos de licenciamento destes edifícios bem como de todas as obras de urbanização em causa, sem nunca esquecer as preocupações constantes da petição pública contra o abate destas árvores, que juntou mais mais de 54 mil assinaturas.
Há muito que o LIVRE antecipava este tipo de questões: em 2022, nas primeiras reuniões na CML sobre o projeto, o LIVRE chamou a atenção para a importância de se preservar na íntegra o conjunto de jacarandás da Av. 5 de Outubro, como determina o Plano Diretor Municipal. Mais tarde, na reunião de Câmara de 26 de Julho de 2024, o LIVRE votou contra a proposta do Executivo de Carlos Moedas de alteração do loteamento, que determinava o abate e transplante de 47 jacarandás deste eixo classificado de Lisboa, e nessa mesma reunião apresentou uma proposta de alteração, que entre outros aspetos, propunha a plantação de mais árvores. Este ponto da proposta não seria, porém, aprovado: “Estudar a implantação de um novo (3º) alinhamento arbóreo ao longo do passeio poente a alargar da Av. 5 de Outubro, intervalado por bancos de jardim e outros equipamentos de mobiliário urbano ou canteiros permeáveis para infiltração da água das chuvas”.
Os “fritos” da avó Carmo
Jorge Pinto foi ao “Isto é Gozar Com Quem Trabalha” e citou a sua avó Carmo lendo um excerto do seu livro "Tamem Digo". O momento foi hilariante. Podem ver abaixo.
1816: o ano sem verão que deu origem ao Frankenstein de Mary Shelley
Venham comigo dar Tempo ao Tempo ao ano de 1816 onde nos encontraremos com Napoleão Bonaparte, alterações climáticas e o monstro bom, Frankenstein, criatura de Mary Shelley que nos ajudará a aprofundar as nossas reflexões sobre o que significa ser humano.
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"Tempo ao Tempo" é um podcast de história da história; de passado, presente e futuro; da mudança da memória no tempo. Vamos percorrer a micro-história e história global, europeia e nacional e conhecer os dilemas de pessoas como nós — do passado, colocando-os em perspectivas com os nossos dilemas — pessoas do presente.
“Com o tempo, vão aparecer texturas e um padrão narrativo, que ajudará a fazer sentido do todo. Mas o todo será sempre multímodo, polifónico e eclético. De muitos caminhos.”.
Todas as quintas-feiras um novo episódio e às sextas, um episódio extra emitido na SIC Notícias (*suspenso por agora até às eleições*).
Venham comigo dar “Tempo ao Tempo”!
Podem subscrever a em expresso.pt ou ouvir na sua plataforma preferida.
E para quem perdeu o primeiro episódio,“Enquanto viveres, brilha”, que vai de Pulp Fiction a Santo Agostinho, passando por um viúvo saudoso, músicas de amor e mais, é só clicar abaixo.
Ouve “Tempo ao Tempo” nas plataformas habituais.
E acompanhem também no jornal Expresso cada episódio com um pouco da história.
Leituras da semana
Walking Out on Hungary — Derrick Wyatt
Europe: Under Protected and Over Restricted: The state of the right to protest in 21 European countries — Amnesty International
Telegram
É por aqui o meu canal no Telegram: https://t.me/ruitavarespt . Vemo-nos por lá!
Fala-me, ó musa, de um homem problemático
Sobre Emily Wilson, a mulher que se aventurou a ser a primeira a traduzir a Odisseia para inglês e o tipo de homens que se escandalizam com isso.
Mas vamos lá: chamar “complicado” a Ulisses é ou não ofensivo? E se fosse? É que a pergunta deve ir um pouco mais atrás: quem diz que é apenas suposto elogiar Ulisses na primeira linha da “Odisseia”?
Vamos à palavra tal como Homero, ou talvez “Homero”, a talvez disse primeiro e ele ou outro a escreveu depois, há cerca de entre 3000 e 2600 anos. A palavra — o primeiro adjetivo usado para descrever Ulisses na Odisseia é πολύτροπον, que se pode transcrever como “polítropon”, um acusativo de “πολύτροπος” (polítropos), para modificar o substantivo ἄνδρα, homem. Polítropon não é complicado de explicar: “poli-” quer dizer “muitos” e “tropos” que dizer “caminhos”, pelo que “polítropon” se poderia traduzir literalmente como “de muitos caminhos”. “Do homem conta-me, ó Musa, de muito caminhos” seria a tradução literal das primeiras palavras da “Odisseia”.
Leia o resto no Expresso.