Olá amigas e amigos,
Bem-vindas e bem-vindos à πολύτροπον (diz-se polítropon) - a minha carta semanal "de muitos caminhos". Esta semana, os nossos caminhos nos levam à primeira semana parlamentar, onde os erros dos dois maiores partidos parecem mais uma "dócil tontaria" do que uma "ignóbil porcaria" do início do século XX. E no meio da confusão do parlamento, destaca-se uma voz honesta que inspirará inúmeras outras vozes. Também chegamos ao último dia das primárias do LIVRE para as eleições europeias.
Espero que gostem!
— E… No final da carta, partilho excertos de um ensaio publicado na Revista do Expresso que explica o nome desta carta (o primeiro adjetivo que Homero usa para descrever Ulisses na Odisseia).
Ah! Lembro que πολύτροπον (diz-se polítropon) - "de muitos caminhos" é inteiramente gratuita.
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Um abraço e um boa ano a todas e todos!
Rui
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A dócil tontaria
"Como a história nunca se repete, mas rima, lembrei-me esta semana da “ignóbil porcaria” ao saber do acordo entre PSD e PS para partir a meio o mandato de Presidente da Assembleia da República em troco de — em troco de quê, exatamente? Alguém sabe? Os experimentadíssimos dirigentes de ambos os partidos dirão que o não ser em troco de nada demonstra precisamente o seu elevado sentido de estado. Alguns comentadores concordam. E eu, até eu, jamais direi que foi ignóbil, nem porcaria. Não vejo nele má-fé, nem astúcia. Pelo contrário, há até ali uma certa ingenuidade: os dois grandes partidos inspiram-se na rotação de meio-mandato no Parlamento Europeu, que tem uma duração fixa de cinco anos imposta por tratados, e pretendem adaptá-la à realidade incomparável da Assembleia da República portuguesa, que não controla a duração do seu próprio mandato. Na escala das coisas, não é um erro de enorme magnitude: mais uma dócil tonteria do que uma ignóbil porcaria.
Mas a dinâmica de base é comparável. Não haja lugar a dúvidas, o bipartidarismo português, que desta vez dura há meio século, está sob pressão. E apesar das diferenças entre os dois grandes partidos, eles têm o interesse em comum de tentar preservá-lo. Daí a tentação de acordos por lugares entre ambos, que serão de seguida atacados pelos populistas emergentes como sendo vergonhosas negociatas por “tachos” (ao passo que, como é evidente, celebram avidamente os seus próprios “vice-tachos”).
Como sair desta tensão? Os dois grandes partidos têm de perceber de aquilo que lhes interessa mais preservar é o bipartidarismo ou a democracia. ”
A crónica completa está no Expresso (cliquem no link para o texto completo para assinantes).
As vozes inspiram
Contente de ver uma companheira de luta, que conheço há 10 anos, levantar a sua voz. Cada vez que alguém ergue a sua voz com coragem e generosidade, disposto a construir em vez de destruir, serve de inspiração para inúmeras outras vozes. Que venham muitas mais contra o ódio e a intolerância, e que sejamos muitos os que anseiam por um país melhor para todos e todas.
Primárias abertas do LIVRE para as eleições europeias
Hoje é o último dia para o envio de candidaturas e inscreverem-se para votar nas primárias abertas do LIVRE para as Eleições Europeias.
Juntem-se a nós na construção de uma Europa democrática, social e comprometida com os Direitos Humanos. Se não quiserem ser candidatos, inscrevam-se para votar! Façam parte da escolha dos candidatos e candidatas do LIVRE!
Inscrições aqui, até às 23:59h.
Telegram
É por aqui o meu canal no Telegram: https://t.me/ruitavarespt . Vemo-nos por lá!
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Fala-me, ó musa, de um homem problemático
Sobre Emily Wilson, a mulher que se aventurou a ser a primeira a traduzir a Odisseia para inglês e o tipo de homens que se escandalizam com isso.
Mas vamos lá: chamar “complicado” a Ulisses é ou não ofensivo? E se fosse? É que a pergunta deve ir um pouco mais atrás: quem diz que é apenas suposto elogiar Ulisses na primeira linha da “Odisseia”?
Vamos à palavra tal como Homero, ou talvez “Homero”, a talvez disse primeiro e ele ou outro a escreveu depois, há cerca de entre 3000 e 2600 anos. A palavra — o primeiro adjetivo usado para descrever Ulisses na Odisseia é πολύτροπον, que se pode transcrever como “polítropon”, um acusativo de “πολύτροπος” (polítropos), para modificar o substantivo ἄνδρα, homem. Polítropon não é complicado de explicar: “poli-” quer dizer “muitos” e “tropos” que dizer “caminhos”, pelo que “polítropon” se poderia traduzir literalmente como “de muitos caminhos”. “Do homem conta-me, ó Musa, de muito caminhos” seria a tradução literal das primeiras palavras da “Odisseia”.
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