Olá amigas e amigos,
Bem-vindas e bem-vindos à πολύτροπον (diz-se polítropon) - a minha carta semanal "de muitos caminhos".
Esta semana, vamos dar um salto ao futuro. Estaremos com António de Lisboa no Conselho Europeu, e celebraremos o sucesso da semana de 4 dias. Além disso, viajaremos pela poesia premiada de Adélia de Divinópolis e ficaremos no Brasil para desfrutar de alguns dias de boas palavras e encontros.
Espero que gostem!
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— E… No final da carta, partilho excertos de um ensaio publicado na Revista do Expresso que explica o nome desta carta (o primeiro adjetivo que Homero usa para descrever Ulisses na Odisseia).
Ah! Recordo que πολύτροπον (diz-se polítropon) - "de muitos caminhos" é inteiramente gratuita.
(Quem não quiser receber este email, é só clicar em "unsubcribe" abaixo, ou enviar mensagem solicitando a retirada da minha lista de contactos.)
Rui
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A Europa de Costa a contra-Costa
Por estes dias, correndo tudo como esperado, outro António de Lisboa, desta vez Costa, será eleito para a presidência do Conselho Europeu. O ambiente é quase diametralmente oposto ao de 2016. Por agora, toda a gente antevê a possibilidade de — num ritmo louco que começa já este fim-de-semana — a extrema-direita ganhar eleições legislativas em França e de Trump voltar à Casa Branca, dificultando em muito a defesa da Ucrânia e abrindo uma brecha para uma vitória de Putin. Como a política é um jogo de expectativas, o que é esperado de Costa é que aguente o barco em mares revoltos com aquele ar impávido que lhe conhecemos tão bem. A única coisa de que ele precisa, supõe-se, é aprender a dizer “vamos lá ver” em outras línguas. Mas precisamente porque a política é um jogo de expectativas, vale a pena olhar para a Europa e o seu futuro próximo mais profundamente, para que se perceba que o maior problema de nós todos está ali bem perto, dentro da sala do Conselho Europeu, e foi por Costa desvalorizado desde o início.
Leiam a crónica completa no Expresso desta semana.
Eu estava errado — E que bom!
Nunca me deu tanto gosto ser corrigido pelo Polígrafo. Afinal os dados finais são ainda mais positivos para a semana de 4 dias do que eu tinha sugerido!
Podem consultar aqui a correção do Polígrafo e aqui o relatório final da semana de 4 dias.
Semana de 4 dias
Na voz da deputada do LIVRE, Isabel Mendes Lopes, perguntámos ao Governo se irá implementar um projeto-piloto da semana de trabalho de 4 dias no setor público. Esta proposta não é uma utopia, mas sim uma visão progressista do futuro.
Na Feira do Livro… de São Paulo!
Alô Brasil!
Contente em partilhar convosco que estarei esta semana na A Feira do Livro 2024, em São Paulo, que começa no dia 29. Será um prazer apresentar a edição brasileira do «Agora, agora e mais agora» e discutir outros trabalhos meus com o público presente.
Marquem a data: 29 de junho a 07 de julho, na Praça Charles Miller, em Pacaembu/São Paulo.
A entrada é gratuita. E a programação pode ser encontrada aqui. Até lá!
“Mulher é desdobrável. Eu sou.”
“Tudo que a memória amou já ficou eterno”. Parabéns Adélia Prado, de Divinópolis, Minas Gerais — vencedora do Prémio Camões 2024!
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
‘coitado, até essa hora no serviço pesado’.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água
quente.Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
(Ensinamento, Adélia Prado)
Leituras da semana
Adélia Prado, a mulher desdobrável, a voz da poesia sensorial e mística, ganhou o Prémio Camões — Christiana Martins
Prémio Camões para a densidade poética do quotidiano de Adélia Prado — Isabel Coutinho e Isabel Lucas
Semana de 4 dias é (afinal) boa para a saúde mental dos trabalhadores e não prejudica as empresas — João Maldonado e Rodrigo Rimourinho
O Pacto Europeu para as Migrações e Asilo: uma oportunidade perdida? — Teresa Pina
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Telegram
É por aqui o meu canal no Telegram: https://t.me/ruitavarespt . Vemo-nos por lá!
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Fala-me, ó musa, de um homem problemático
Sobre Emily Wilson, a mulher que se aventurou a ser a primeira a traduzir a Odisseia para inglês e o tipo de homens que se escandalizam com isso.
Mas vamos lá: chamar “complicado” a Ulisses é ou não ofensivo? E se fosse? É que a pergunta deve ir um pouco mais atrás: quem diz que é apenas suposto elogiar Ulisses na primeira linha da “Odisseia”?
Vamos à palavra tal como Homero, ou talvez “Homero”, a talvez disse primeiro e ele ou outro a escreveu depois, há cerca de entre 3000 e 2600 anos. A palavra — o primeiro adjetivo usado para descrever Ulisses na Odisseia é πολύτροπον, que se pode transcrever como “polítropon”, um acusativo de “πολύτροπος” (polítropos), para modificar o substantivo ἄνδρα, homem. Polítropon não é complicado de explicar: “poli-” quer dizer “muitos” e “tropos” que dizer “caminhos”, pelo que “polítropon” se poderia traduzir literalmente como “de muitos caminhos”. “Do homem conta-me, ó Musa, de muito caminhos” seria a tradução literal das primeiras palavras da “Odisseia”.
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