Olá amigas e amigos,
Bem-vindas e bem-vindos à πολύτροπον (diz-se polítropon) - a minha carta semanal "de muitos caminhos". Esta semana, a nossa jornada nos leva ao futuro – um futuro decidido por nós. Percorreremos a Europa, refletindo sobre quem se beneficia do colapso do projeto europeu e quais os interesses que estão em jogo. Também visitaremos a Feira do Livro, destacando um livro que é, na verdade, dois, e outro que é pura filosofia.
Ah! Não se esqueçam de conferir as leituras da semana, que são uma excelente companhia para a viagem de comboio.
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— E… No final da carta, partilho excertos de um ensaio publicado na Revista do Expresso que explica o nome desta carta (o primeiro adjetivo que Homero usa para descrever Ulisses na Odisseia).
Ah! Lembro que πολύτροπον (diz-se polítropon) - "de muitos caminhos" é inteiramente gratuita.
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Rui
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A Europa e os seus inimigos
A questão que se coloca então é: de onde vem agora a força dos inimigos da Europa? Eles querem convencer-nos de que a força deles vem de baixo, do povo, e que isso lhes dá uma vantagem comparativa (...). Mas, e se a explicação fosse mais simples. E se à política pertencessem principalmente razões da política? Essa foi a pergunta com que vos deixei a semana passada, convidando-vos a considerar se: 1) havia gente com interesse em minar as democracias europeias; 2) se essa gente tinha os meios para o fazer; 3) se há indícios de que o tentem fazer. Se a resposta for sim a todas as três perguntas, temos obrigação de nos perguntar como reagir em conformidade. Ora, é evidente que a resposta é sim às três perguntas. (...) Não lhe faltam meios para o fazer, desde o dinheiro à capacidade técnica e à tradição consolidada de operações de influência, espionagem e apoio a atores perturbadores da política doméstica de outros países e regiões. E, sim, há indícios mais do que suficientes de apoio russo a partidos de extrema-direita europeus, ao referendo do ‘Brexit’ e à eleição de Trump com o objetivo claro de enfraquecer a Europa. Como agir, então? Em primeiro lugar, reconhecendo esta realidade, identificando-a e procurando acantoná-la. Em segundo lugar, não fazendo dela uma teoria da conspiração, mas assumindo-a como um dado de base da política atual. E, em terceiro, tratando e denunciando como inimigos da Europa essa extrema-direita e os seus amigos e aliados.
Podem ler o texto completo no jornal Expresso desta semana.
A quem interessa, com que meios e com que efeitos?
O que estávamos a ver — e estamos ainda a ver, ao escrever estas linhas em 2024 — era a emergência de uma “internacional nacionalista”, fundada na exploração de ressentimentos sociais e potenciada pelas alterações estruturais da esfera pública a uma escala global trazidas pela internet, as redes sociais e agora a inteligência artificial.
Ainda assim, não podemos correr o risco de substituir apenas uma explicação económica por uma explicação cultural quando o fenómeno é um fenómeno político que ocorre na política internacional. Sendo assim, uma das perguntas mais simples (e não simplista, no caso) que nos podemos fazer é: a quem interessa isto na política internacional? Depois de respondermos a essa pergunta, podemos acrescentar uma segunda: os atores a quem isto interessa têm os meios (financeiros, de espionagem, de influência) para fazer qualquer coisa por isso? Se a resposta for sim, podemos acrescentar ainda uma terceira pergunta: há indícios de que o tipo de operação que os beneficia esteja a ser levada a cabo?
Vou deixar estas três perguntas aqui a marinar durante uma semana. Caso a resposta seja “sim” a todas, regressaremos para tentar perceber a quem interessa, quais são os meios e quais são os indícios. Às vezes, para ver o que está à frente do nariz basta ter os olhos abertos.
Leia a crónica completa no Expresso.
Na Feira do Livro…
Para quem perdeu a apresentação do meu duplo livro «Não foi por Falta de Aviso | Ainda o Apanhamos!», no próximo dia 15 de junho, estarei na companhia de Leonor Caldeira para nova apresentação.
Reuni neste duplo livro crónicas da última década em que alerto para os perigos do crescimento do autoritarismo em Portugal e na Europa. Mas trata-se de um duplo livro, porque podemos dar a volta a isto: do outro lado, encontramos “Ainda o Apanhamos! Crónicas do Portugal futuro”, que oferecem uma visão otimista e possíveis soluções para o nosso país e a Europa.
Apareçam! Começa às 15h45!
E… no mesmo dia, às 19h, estarei ao lado de António de Castro Caeiro para apresentar o seu livro «O que é Filosofia?». Antes de irem jantar, passem por lá!
Voto em mobilidade
Se está inscrito ou inscrita no recenseamento eleitoral pode exercer o seu direito de voto em qualquer mesa de voto à sua escolha.
Em território nacional, pode votar no dia 9 de junho em qualquer mesa de voto.
Se estiver fora de Portugal, pode votar numa mesa de voto nos dias 8 ou 9 de junho.
Mais informações aqui.
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Leituras da semana
O Pacto Europeu para as Migrações e Asilo: uma oportunidade perdida? — Teresa Pina
Retracing the Steps of the Eleusinian Procession: A Mortal Experience – Antigone — Athina Mitropoulos
A history (and defense) of left vs right — Matthew Yglesias
“All animals are conscious”: Shifting the null hypothesis in consciousness science — Kristin Andrews
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Telegram
É por aqui o meu canal no Telegram: https://t.me/ruitavarespt . Vemo-nos por lá!
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Fala-me, ó musa, de um homem problemático
Sobre Emily Wilson, a mulher que se aventurou a ser a primeira a traduzir a Odisseia para inglês e o tipo de homens que se escandalizam com isso.
Mas vamos lá: chamar “complicado” a Ulisses é ou não ofensivo? E se fosse? É que a pergunta deve ir um pouco mais atrás: quem diz que é apenas suposto elogiar Ulisses na primeira linha da “Odisseia”?
Vamos à palavra tal como Homero, ou talvez “Homero”, a talvez disse primeiro e ele ou outro a escreveu depois, há cerca de entre 3000 e 2600 anos. A palavra — o primeiro adjetivo usado para descrever Ulisses na Odisseia é πολύτροπον, que se pode transcrever como “polítropon”, um acusativo de “πολύτροπος” (polítropos), para modificar o substantivo ἄνδρα, homem. Polítropon não é complicado de explicar: “poli-” quer dizer “muitos” e “tropos” que dizer “caminhos”, pelo que “polítropon” se poderia traduzir literalmente como “de muitos caminhos”. “Do homem conta-me, ó Musa, de muito caminhos” seria a tradução literal das primeiras palavras da “Odisseia”.
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