Olá amigos e amigas,
Bem-vindos e bem-vindas a πολύτροπον (diz-se polítropon) - "de muitos caminhos", carta semanal que reúne as ligações para crónicas que vou publicando no Expresso e textos completos de outras em acesso livre; o que ando a ler, o que tenho em agenda e iniciativas políticas ou outras. Espero que gostem!
Neste primeiro número envio excertos de um ensaio publicado na Revista do Expresso que explica o nome desta carta (o primeiro adjetivo que Homero usa para descrever Ulisses na Odisseia). Junto também excertos das crónicas publicadas até agora no 1º Caderno do Expresso. E, em acesso livre, mas em inglês, a proposta que fiz no Green European Journal defendendo a criação de Bibliotecas Europeias em todos os estados-membros da União.
E como a carta já fica longa com esse acervo acumulado nas últimas semanas, deixarei as outras iniciativas para a semana que vem. Espero que gostem e que queiram receber.
(Quem não quiser receber este email, é só clicar em "unsubcribe" abaixo, ou enviar mensagem solicitando a retirada da minha de contactos.)
Um abraço,
Rui
Fala-me, ó musa, de um homem problemático
Sobre Emily Wilson, a mulher que se aventurou a ser a primeira a traduzir a Odisseia para inglês e o tipo de homens que se escandalizam com isso.
Mas vamos lá: chamar “complicado” a Ulisses é ou não ofensivo? E se fosse? É que a pergunta deve ir um pouco mais atrás: quem diz que é apenas suposto elogiar Ulisses na primeira linha da “Odisseia”?
Vamos à palavra tal como Homero, ou talvez “Homero”, a talvez disse primeiro e ele ou outro a escreveu depois, há cerca de entre 3000 e 2600 anos. A palavra — o primeiro adjetivo usado para descrever Ulisses na Odisseia é πολύτροπον, que se pode transcrever como “polítropon”, um acusativo de “πολύτροπος” (polítropos), para modificar o substantivo ἄνδρα, homem. Polítropon não é complicado de explicar: “poli-” quer dizer “muitos” e “tropos” que dizer “caminhos”, pelo que “polítropon” se poderia traduzir literalmente como “de muitos caminhos”. “Do homem conta-me, ó Musa, de muito caminhos” seria a tradução literal das primeiras palavras da “Odisseia”.
Leia o resto no Expresso para assinantes.
Da minha crónica desta semana no Expresso.
Porque está tudo a rebentar em todo o lado ao mesmo tempo?
"Se a força é a nova lei, cada “homem forte” tem livre-conduto para resolver os seus “problemas” (em geral, gente de outra etnia) à vontade, para decidir diferendos e para cumprir com velhos sonhos irredentistas e ambições territoriais. Quase ninguém reparou, mas entre a Ucrânia e a Palestina, o Azerbaijão fez uma limpeza étnica de cem mil arménios no seu território, e ambiciona cavar um corredor na própria República da Arménia para aceder a um enclave seu. Pode fazê-lo, porque tem o apoio da Turquia, a Rússia está ocupada na Ucrânia e todo o mundo está distraído, então porque não? Devemos esperar mais disto, só não se sabe onde. Irão? Coreia do Norte?"
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Onde se mete o “mas”
“O “mas” é uma palavra bela; não há nada de errado com ela. Mas — lá está — é preciso saber usá-la. Se eu disser “sicrano é meu inimigo, mas é um ser humano” ou “sicrano é um ser humano, mas é meu inimigo” as palavras são as mesmas, mas o sentido não o é.”
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Habitação: uma emergência dentro de uma crise em cima de um problema
"Não sei quantos casos fazem uma tendência, mas há três lições a extrair. Primeira: estas pessoas não deveriam estar na rua; gente que trabalha tem de poder ganhar salários que dêem para as rendas, ou pagar rendas que caibam nos seus salários, ponto. Segunda: impedir que pessoas nesta situação fiquem na rua é muito mais eficaz, rápido, simples — e humano — do que aceitar prolongar a situação de sem-abrigo e tentar resolvê-la depois. Terceira: isto já não é só um “problema” ou uma “crise” da habitação. Isto agora é uma emergência."
Esta semana, no Expresso, sobre Habitação e o que podemos fazer para resolver o problema que se transformou numa crise e que agora é uma emergência.
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O 15º Salário de Troia
A minha crónica da última semana no Expresso, sobre as medidas que podem ser implementadas para dar poder aos trabalhadores garantirem e manterem a capacidade salarial.
“A maneira historicamente mais comprovada de subir salários, nos países que hoje os têm altos, não é através de “presentes” dos patrões. É dando mais poder aos trabalhadores. E os meios mais seguros de o fazer consistem no reforço da negociação coletiva, que anda muito debilitada em Portugal, na presença de trabalhadores nos conselhos de administração (que não temos, como os tem a Alemanha) e a criação de novos tipos de empresas cooperativas em que os trabalhadores tenham mais poder (aprovando a lei de autogestão que a Constituição menciona no seu artigo 61º e que nunca chegou a ser redigida). Estas seriam propostas testadas historicamente, mas de certa forma inovadoras em Portugal, que em vez de serem “presentes” seriam uma conquista: real poder para os trabalhadores garantirem e manterem capacidade salarial.”
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Não usem os pobres como pretexto para lhes lixar o planeta
"Com um discurso que faria Orwell pensar “isto parece tirado de um livro meu”, [o PM britânico] Rishi Sunak alegou que fazer menos pelo clima era a sua nova política verde, que recuar era um ato de coragem e que não se podia andar tão depressa porque senão as famílias trabalhadoras não aguentariam o esforço. (...) Como é evidente, isto tem pouco a ver com os pobres, os trabalhadores, ou sequer o clima. O que move Sunak é o mesmo que move qualquer primeiro-ministro do seu partido que se aguenta um ano no cargo e começa a ter medo de perder o apoio dos seus deputados mais radicais ou ser forçado a ir a eleições. Como com Boris Johnson ou Liz Truss antes dele, o que Rishi Sunak procura é um ponto de conflito numa guerra cultural que lhe permita criar novas trincheiras, caricaturar os seus adversários, e proteger os financiadores do seu partido."
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O Brasil voltou” para sair de novo
Crónica sobre o convite do presidente Lula a Putin na cimeira do G20 e com a sua sugestão de que este não seria preso no Brasil, incumprindo com o mandado de captura e com as normas do Tribunal Penal Internacional do qual o Brasil é signatário.
Durante a campanha eleitoral, e mesmo durante os debates decisivos da segunda volta, o agora presidente do Brasil chamou “genocida” ao seu adversário, Jair Bolsonaro. E efetivamente, Bolsonaro foi alvo de queixas entregues no Tribunal Penal Internacional, tanto por ONG internacionais como por partidos brasileiros, por causa das suas ações e omissões que levaram a enormes excessos de mortes durante a pandemia de covid-19, bem como pela sua cumplicidade ativa com o desmatamento na Amazónia. Já depois da tomada de posse de Lula, o seu ministro dos Direitos Humanos Sílvio Almeida acrescentou a estes factos a omissão de auxílio aos ionomâmis, que vivem no extremo norte do país, e que morreram em grande número por pressão do garimpo ilegal durante o mandato de Bolsonaro. Mais uma vez a expressão usada foi “genocida” e foram enviadas queixas ao TPI.
Como se pode defender que Bolsonaro seja genocida, mas Putin não?
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O partido do sistema
Sobre “O partido do sistema". Adivinhem qual é?
Quanto pior a infração, maior o berrame; quanto mais choro, mais colinho; quanto mais mimo, pior o comportamento; e quanto mais berros mais atenção. Parece criancice, mas não há aqui qualquer inocência infantil.
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2030 é daqui a muito tempo
Excerto da minha primeira crónica no jornal Expresso.
Podemos sempre dizer que 2030 é daqui a muito tempo. Em 2030 os jovens que estiverem agora a entrar na universidade estarão mesmo a tempo de emigrar. Em 2030 pode ser que os turistas já estejam fartos de olhar uns para os outros nos centros das nossas cidades. Em 2030 é só o próximo governo e o próximo (ou a próxima!) Presidente que terão de lidar com os escombros da falta de debate que tiver havido hoje. Ora, por falar nisso…
Leia o resto no Expresso para assinantes.
Objects of Political Desire VIII: A European project that you can touch and be touched by
Na minha contribuição ao Green European Journal, expressei o argumento a favor da instituição de Bibliotecas Europeias em cada um dos Estados-membros da União Europeia.
What’s more, a European Library should be a meeting place. It should have studios and study rooms where working groups can hold meetings, record a podcast, or prepare for an event. Exhibition halls with temporary and travelling exhibitions; auditoriums with dedicated programming spanning across several countries at the same time. It could have a press room to host debates on current affairs in Europe, its countries and humanity as a whole. It could have an Erasmus Club where exchange students could meet. It could have an information centre for scientists applying for European funding projects and spaces for knowledge transfer. It could house the delegations (which already exist) of the institutions, enabling economies of scale. It would, of course, rely on local imagination and ingenuity. In Aarhus, the local library has a gong that plays a pleasant sound every time a baby is born in the city’s maternity hospital and its parents want to announce it to the world. Who knows what each collective of architects and programmers, from Lisbon to Vilnius, could come up with?
Leia o texto completo no Green European Journal, acesso livre.
Leituras da semana
No dia 23 de setembro deste ano, estive entre os convidados do «The Future of Social Democracy» organizado pelo RemarqueNYU, em Nova Iorque. No programa estavam oradores como Clara Mattei, Jenny Andersson, Stephanie Mudge, Isabella Webere, Sandrine Kott, Paolo Gerbaudo e outros. Aproveito e deixo aqui algumas leituras de alguns deles. Da minha parte, falei dos “objetos de desejo político” — podem encontrar mais sobre este tema nos meus artigos no Green European Journal. Boa leitura!
Paolo Gerbaudo — Tweets and the Streets: Social Media and Contemporary Activism
Jenny Anderson — The Freedom Front and the welfare state counter revolution
Clara Mattei — The Guardians of Capitalism: International Consensus and Fascist Technocratic Implementation of Austerity
Sandrine Kott — "Teaching About European Socialism to Rethink our Societies in Radical Teacher, Summer 2023