Olá amigas e amigos,
Bem-vindas e bem-vindos a πολύτροπον (diz-se polítropon) - a minha carta semanal "de muitos caminhos".
Vamos, nesta carta, até ao discreto ano de 1924, o último ano em que as coisas poderiam ter corrido bem — ou, pelo menos, não tão catastroficamente mal. De lá, voltamos a tempo — o nosso tempo — de encontrar Portugal numa crise política — e também ouviremos a Isabel Mendes Lopes sobre a dissolução do parlamento. Veremos ainda que o grande jogo imperial do século XXI está no Ártico e falaremos sobre Europa, segurança e democracia.
***
Recordo que πολύτροπον (diz-se polítropon) - "de muitos caminhos" é inteiramente gratuita. — Se quiserem saber mais sobre o nome desta carta, vejam aqui.
(Quem não quiser receber este email, é só clicar em "unsubscribe" abaixo, ou enviar mensagem a solicitar a retirada da minha lista de contactos.)
Rui
***
Não se joga o país na roleta
"Há ano e meio, eu escrevia nestas páginas algo como “quem nos dera que esta fosse apenas uma crise política; infelizmente, ela tem já elementos de uma crise de regime”. Isso era sobre a crise política de então. Sobre a crise política de hoje, digo antes que ela começa por ser uma crise ética, circunscrita ao primeiro-ministro. É responsabilidade de todos nós garantir que ela não se torna na crise de regime, agora já não parcial nem latente, mas total e exposta aos olhos de toda a gente.
Muitas vezes, aqueles que vivem os últimos dias de um regime não sabem que estão a viver esses últimos dias. Há cem anos, em 1925, a Iª República não sabia que tinha pouco mais de um ano de vida. Um dos seus políticos mais experimentados, António Maria da Silva, não fazia ideia que seria o seu último primeiro-ministro. Hoje, somos nós que não fazemos ideia de quem ele foi — para lá de ter passado à história como o último."
👉 No Expresso desta semana podem ler a crónica completa
A geopolítica que vai para o frio
O Grande Jogo Imperial do século XXI está no Ártico
"Pergunto-me A Groenlândia foi a votos ontem, e o mundo prestou atenção. É essa a notícia. Com todo o respeito, o mundo não costumava prestar atenção às eleições na Groenlândia.(...) Hoje, vivemos um grande encontro entre a geopolítica, a ecologia e a Groenlândia. O mesmo Trump que nega as alterações climáticas está na verdade interessado em acelerá-las porque isso permitirá explorar novos minérios e aceder a novas rotas que farão do Ártico um autêntico Mediterrâneo entre EUA e Rússia, se Trump e Putin levarem a sua avante. Quem atrapalha é o Canadá, país ártico, e nações como a Groenlândia, a Islândia e a Noruega. Daí que isso justifique uma maior coordenação entre estes países e a União Europeia para combater as ambições trumpo-russas.
Daí a ideia: por que não reabrir a porta da União Europeia? Assim, a Groenlândia poderia aceder à independência em relação à Dinamarca, mas ter um lugar à mesa com outras nações pequenas e médias que procuram resistir a este novo imperialismo."
👉 Na Folha de São Paulo podem ler a crónica completa
1924: o ano em que as coisas poderiam ter corrido bem (ou vá: menos mal)
E se Mussolini e Hitler tivessem pago pelos seus crimes? Se o governo canhoto tivesse vingado? Se no Brasil a "Política do Café com Leite" não mantivesse o poder nas elites e Stalin não tivesse poder na antiga União Soviética? Vem comigo a 1924, no novo episódio de Tempo ao Tempo.
***
"Tempo ao Tempo" é um podcast de história da história; de passado, presente e futuro; da mudança da memória no tempo. Vamos percorrer a micro-história e história global, europeia e nacional e conhecer os dilemas de pessoas como nós — do passado, colocando-os em perspectivas com os nossos dilemas — pessoas do presente.
“Com o tempo, vão aparecer texturas e um padrão narrativo, que ajudará a fazer sentido do todo. Mas o todo será sempre multímodo, polifónico e eclético. De muitos caminhos.”.
Todas as quintas-feiras um novo episódio e às sextas, um episódio extra emitido na SIC Notícias.
Venham comigo dar “Tempo ao Tempo”!
Podem subscrever a em expresso.pt ou ouvir na sua plataforma preferida.
E para quem perdeu o primeiro episódio,“Enquanto viveres, brilha”, que vai de Pulp Fiction a Santo Agostinho, passando por um viúvo saudoso, músicas de amor e mais, é só clicar abaixo.
Ouve “Tempo ao Tempo” nas plataformas habituais.
E acompanhem também no jornal Expresso cada episódio com um pouco da história.
A dissolução do parlamento
O LIVRE não abandonará as suas propostas com dissolução do parlamento. O nosso trabalho irá continuar a mudar a vida dos portugueses, portuguesas e residentes em Portugal. Vê a Isabel Mendes Lopes no vídeo abaixo.
Democracia e a segurança na Europa
Os partidos políticos podem decidir um dia para marcarem a agenda do debate na Assembleia da República, a isto é chamado de “debate potestativo”. O LIVRE levou como debate potestativo o tema sobre a segurança na Europa. O que quero vos dizer nesta carta, digo neste vídeo que vos convido a verem.
Objects of Political Desire IV: Democratise, Develop, Decolonise
I was two years old. The global impact of my country’s revolution eluded me, but the revolution was global in what it meant for us as kids. We grew up in a highly politicised country, where people would spend all day arguing about parties and leaders. Our cities were full of posters and possibility, and elections were movable feasts.
When I was a kid, politics was about what good things could happen next. For a while, we lived in our small ancestral village. 25 April was the day us kids would run around the village; we would get medals. In the summer, the municipal bus would pass by and take us to the bean-shaped swimming pool of a wealthy farm villa that people said had been owned by a secret police chief before the revolution. My dad and our neighbours founded a small land-owners cooperative and shared tractors and agricultural appliances.
Later on, in the early 1980s, the mobile library visited the village, with its shelves mounted on the back of a cargo van. As Portugal entered the European Economic Community, we hopped into our own cargo van and crossed Europe to attend my brother’s wedding on the other side of the Iron Curtain (a good story, but for another day).
The material revolution in 1974 had been built upon ideas sowed one year before in 1973, in the Congress of Democratic Opposition in the lovely city of Aveiro, situated by a lagoon and traversed by canals where gondola-like boats float. Before the police could repress the opposition and disband the peaceful debates they were engaged in, the ideas that became the basis for the revolution had crystallised around a very simple slogan. We call it the “three Ds”: democratizar, desenvolver, descolonizar – democratise, develop and decolonise.
The three Ds never meant the same thing to everybody. The Communists and the Christian Democrats, the centre-left and the centre-right had different versions of what they could stand for, but they all subscribed to the three Ds. What a simple idea capable of being shared by a whole people and unfolded differently by each and every individual can mean for a country is quite simply transformational.
All Portuguese persons of a certain age are products of that idea. For me and my siblings, the “three Ds” meant, most of all, education. Our parents had studied for three or four years in their childhood. We all got university degrees, with scholarships and virtually free tuition. From primary school to my PhD in Paris I never had to pay. I was always paid to study.
👉 Lê o artigo completo no Green European Journal
Leituras da semana
The End of the Postwar World — Anne Applebaum
Emma Goldman: A Nearly Complete Collection of Emma Goldman’s Works — Internet Archive (Public Domain)
Telegram
É por aqui o meu canal no Telegram: https://t.me/ruitavarespt . Vemo-nos por lá!
Fala-me, ó musa, de um homem problemático
Sobre Emily Wilson, a mulher que se aventurou a ser a primeira a traduzir a Odisseia para inglês e o tipo de homens que se escandalizam com isso.
Mas vamos lá: chamar “complicado” a Ulisses é ou não ofensivo? E se fosse? É que a pergunta deve ir um pouco mais atrás: quem diz que é apenas suposto elogiar Ulisses na primeira linha da “Odisseia”?
Vamos à palavra tal como Homero, ou talvez “Homero”, a talvez disse primeiro e ele ou outro a escreveu depois, há cerca de entre 3000 e 2600 anos. A palavra — o primeiro adjetivo usado para descrever Ulisses na Odisseia é πολύτροπον, que se pode transcrever como “polítropon”, um acusativo de “πολύτροπος” (polítropos), para modificar o substantivo ἄνδρα, homem. Polítropon não é complicado de explicar: “poli-” quer dizer “muitos” e “tropos” que dizer “caminhos”, pelo que “polítropon” se poderia traduzir literalmente como “de muitos caminhos”. “Do homem conta-me, ó Musa, de muito caminhos” seria a tradução literal das primeiras palavras da “Odisseia”.
Leia o resto no Expresso.